Parte 1 - Afinal, o que é cegueira? E baixa visão? Definições

Jan 08

Visão normal e cegueira

A Classificação Internacional de Doenças – versão 10 (CID 10)¹ estabelece quatro níveis de função visual:

  • visão normal
  • deficiência visual moderada
  • deficiência visual grave
  • cegueira

Essa classificação estabelece duas escalas oftalmológicas como parâmetros para avaliar a deficiência visual: a acuidade visual (a capacidade de se reconhecer determinado objeto a determinada distância) e o campo visual (a amplitude da área alcançada pela visão).

São consideradas cegas não apenas as pessoas que apresentam incapacidade total para ver, mas também todas aquelas nas quais o prejuízo da visão se verifica em níveis incapacitantes para o exercício de tarefas rotineiras, apesar de possuírem certos graus de visão residual.

Utilizam-se os termos “cegueira legal” ou “cegueira parcial” para classificar a deficiência visual de indivíduos que apresentam uma de duas condições:

Visão corrigida do melhor olho de 20/400 ou menor, ou:

  • Diâmetro mais largo do campo visual com medida inferior a 20 graus de arco, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior a 20/400 (este campo visual restrito é chamado de “visão em túnel”).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (CID-10), os pacientes cujo campo visual se encontra entre 5º e 10° em torno do ponto central de fixação devem ser classificados no grau 3 e os pacientes com campo até 5º em torno do ponto central de fixação serão considerados na categoria 4, mesmo se a acuidade central não estiver comprometida.

 

Entre as pessoas com “cegueira legal”, estão aquelas, por exemplo, que só percebem vultos, aquelas que só conseguem contar dedos a curta distância e aquelas que só mantêm percepção luminosa. Estes últimos estão mais próximos da cegueira total ou amaurose, que pressupõe perda completa de visão, sem que haja sequer a percepção luminosa.

Em 1972, o Grupo de Estudos da Prevenção da Cegueira, reunido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), desenvolveu a classificação da deficiência visual que ainda hoje é adotada. De acordo com essa definição, o termo “visão subnormal” aplica-se às categorias 1 e 2 do quadro a seguir, enquanto o termo “cegueira” relaciona-se às categorias 3, 4 e 5 e a seguir “perda de visão sem qualificação” da categoria 9.

 

Quadro 1: Classificação de Deficiência Visual: OMS, 1972

 

Recomendações para a “Padronização da Definição de Perda de Visão e Funcionamento Visual”

Apesar da classificação acima estar vigente, em 2003 a consultoria da OMS para a Padronização da Definição de Perda de Visão e Funcionamento Visual propôs uma alteração na definição de cegueira². A Consultoria sugeriu a substituição do termo “melhor correção visual” por “melhor correção visual disponível, salientando que o termo “melhor correção visual” no melhor olho estava ultrapassado, já que muitos estudos mais recentes mostram que esse critério desprezava uma grande quantidade de pessoas com deficiência visual, incluindo cegueira, em função de erros de refração não corrigidos, ocorrência comum em muitas partes do mundo. Assim, cinco pontos foram apontados para justificar a necessidade da alteração:

  • Definição das categorias de deficiência visual baseadas na “melhor correção visual possível”
  • Nomenclatura
  • Categorização de cegueira
  • Inconsistências dentro das subcategorias H 54
  • Resolução do Conselho Internacional de Oftalmologia (ICO) para revisão do CID 10

O CID 10 (utilizado atualmente pelo Ministério da Saúde) usa as palavras “visão subnormal” para as categorias 1, 2 e 3 das deficiências visuais. Na prática dos cuidados visuais, porém, “visão subnormal” tem um significado específico, definido pela OMS, que é o seguinte:

“A pessoa com visão subnormal é aquela que possui uma deficiência da função

visual mesmo após tratamento e/ou correção refrativa, apresentando acuidade visual entre menos de 20/60 e percepção de luz, ou um campo visual inferior a 10 graus de campo visual central, mas que usa sua visão, ou é potencialmente capaz de usá-la para o planejamento e/ou execução de uma tarefa”.

Por essa definição, pessoas que poderiam se beneficiar de tratamentos de baixa visão estão atualmente categorizadas como cegas. Isso levou a erros de cálculos de estimativas de pessoas que necessitam de tratamento para visão subnormal.

Na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 11), as deficiências visuais (ou seja, uma acuidade visual inferior a 6/12 no olho melhor) são categorizadas com um limite mais rigoroso e busca reconhecer um conjunto crescente de provas que demonstram que as reduções mais brandas na acuidade visual também afetam o funcionamento diário de indivíduos.

O quadro a seguir mostra a CID 11, lançada pela OMS em 2018, e que deverá ser adotada no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2025, estimativamente.

Quadro 2 – Proposta de revisão das categorias de deficiência visual

 

Visão Monocular

É definida como a presença de visão normal em um olho e cegueira no olho contralateral – acuidade visual inferior a 20/400 com a melhor correção visual.

A visão monocular interfere com a estereopsia (visão de profundidade, 3D ou percepção espacial dos objetos) permitindo examinar a posição e a direção dos objetos dentro do campo da visão humana em um único plano, ou seja, apenas em duas dimensões. Assim, pacientes com visão monocular reconhecem normalmente a forma, as cores e o tamanho dos objetos, mas têm dificuldade em avaliar a profundidade e as distâncias, características da visão tridimensional.

Apesar disso, de acordo com a OMS, a literatura sobre o comprometimento unilateral da visão ainda é escassa. Isso acontece porque grande parte das pesquisas publicadas optam por se concentrar apenas no comprometimento bilateral da visão. ³

Extraído do Portal do CBO - Conselho Brasileiro de Oftalmologia - As Condições de Saúde Ocular no Brasil - Parte 1 - Definições