Afinal, o que é cegueira? E baixa visão? Parte 1 - Cegueira e baixa visão na criança

Jan 10

O Plano de Ação do Programa Visão 2020 para 2014/2019 do IAPB estimava que havia 1,4 milhão de crianças cegas no mundo, das quais um milhão viviam na Ásia e 300.000 na África. A prevalência variaria de 0,3/1000 crianças de 0-15 anos em países desenvolvidos para 1,5/1.000 crianças em países muito pobres. Embora o número de crianças cegas seja relativamente baixo, elas têm uma longa expectativa de vida. Se multiplicarmos o número de crianças pela sua expectativa de vida, chegaremos a uma estimativa de 75 milhões de anos-cego, um número menor apenas do que o número de anos-cego da catarata em idosos. Essa questão traz um grande impacto na vida dessas crianças, já que a cegueira é um fator de risco para morte prematura, além de aumentar o risco de diversas doenças como demência, problemas cardiovasculares, câncer pulmonar, depressão e ansiedade, segundo informações coletadas pelo IAPB.

O mesmo relatório do IAPB mostrou que 500.000 crianças ficam cegas por ano (quase uma por minuto). Muitas morrem na infância por causa do problema que levou à cegueira (sarampo, meningite, rubéola, doenças genéticas, lesões neurológicas ou prematuridade). A maioria das crianças cegas nasce cegas ou fica cegas em seu primeiro ano de vida. Devido a diferenças demográficas, o número de crianças que são cegas varia de cerca de 600 por 10 milhões de habitantes em países desenvolvidos para cerca de 6.000 por 10 milhões de habitantes em países muito pobres.

As causas de cegueira na infância variam, mas as principais causas evitáveis são::

  • Cicatrizes corneanas (notadamente na África e nos países mais pobres da Ásia);
  • Catarata (independente das condições econômicas);
  • Glaucoma (independente das condições econômicas);
  • Retinopatia da prematuridade (em países de renda alta e média e em algumas cidades na Ásia);
  • Erros de refração (em todo o mundo, mas especialmente no Sudeste da Ásia);
  • Baixa visão, que engloba a deficiência visual e cegueira por causas intratáveis, em todas as regiões do mundo.

As principais causas de cegueira em crianças mudam com o tempo. Como consequência dos programas de sobrevivência infantil (por exemplo, a gestão integrada das doenças da infância), as cicatrizes corneanas devido ao sarampo e à deficiência de vitamina A estão em declínio em muitos países em desenvolvimento, enquanto a proporção de cegueira devido à catarata está aumentando.

A retinopatia da prematuridade está emergindo como importante causa em muitos países de rendimento médio, além de ser um desafio crescente em vários países africanos, e provavelmente terá mais destaque como causa de cegueira na Ásia ao longo da próxima década. A questão alerta, de acordo com a OMS, para uma maior necessidade de cuidados neonatais de qualidade e serviços integrados para rastreio e tratamento da retinopatia.

A prevalência de erros refrativos, especialmente miopia, está aumentando em crianças em idade escolar, em populações que estão em rápida transição econômica, como o Leste Asiático. A observação é do relatório da OMS, que aponta ainda que o número de crianças e adolescentes com miopia deve aumentar em 200 milhões entre os anos de 2000 e 2050.

Dentre as causas prevalentes de cegueira infantil está a ambliopia (olho preguiçoso), que se relaciona a erro refracional não corrigido, à privação de imagem na retina (por obstrução nos meios oculares até os seis anos de idade) ou ao estrabismo, que levam ao inadequado desenvolvimento da visão no cérebro. A cegueira por ambliopia pode ser prevenida com o exame oftalmológico das crianças com até três anos de idade. A incidência de ambliopia varia entre 0% e 5% da população geral.

Os conhecimentos médicos atuais permitem prevenção ou tratamento efetivo de pelo menos 60% das causas de cegueira e severo comprometimento visual infantil.

De modo geral, segundo levantamento da IAPB, 40% das crianças são cegas devido a condições oculares que poderiam ter sido evitadas ou tratadas se a criança tivesse acesso a serviços oftalmológicos. Nos países em desenvolvimento, a proporção de cegueira por causas evitáveis é maior que nos países desenvolvidos.

 

Principais causas de cegueira infantil por etiologia

Hereditária: Distrofia retiniana, catarata, aniridia, albinismo

Infância: Deficiência de vitamina A, sarampo, meningite, trauma

Perinatal: Retinopatia da prematuridade, oftalmia neonatal, alteração cortical

Intrauterina: Rubéola, álcool, toxoplasmose

Desconhecida: Anomalias, início desconhecido

 

Limitações

A efetiva avaliação dos impactos da cegueira infantil é prejudicada por alguns pontos:

  • Falta de dados confiáveis sobre a prevalência e as causas da cegueira entre crianças;
  • Falta de sensibilização de pais e da comunidade sobre medidas preventivas e sobre reabilitação (a visão das crianças que são cegas muitas vezes pode ser melhorada por meio de recursos ópticos);
  • Existência de barreiras no acesso aos serviços, incluindo a falta de consciência, distância, custo, medo e outras demandas por recursos escassos no seio da família;
  • Escassez de oftalmopediatras e de oportunidades para a formação deles na maioria dos países de baixa renda;
  • Falta de intercâmbio internacional para o desenvolvimento de recursos humanos em Oftalmologia pediátrica e insuficiência do tema nos currículos de pós-graduação mesmo em muitos países industrializados;
  • Falta de oferta adequada de educação especial para crianças com perda visual irreversível, particularmente em países de baixa renda.

 

Saúde ocular na escola

Existem muitas barreiras para que as crianças em países de baixa e média renda acessem serviços de saúde ocular. Os programas de saúde escolar oferecem uma oportunidade única para o diagnóstico para potencialmente mais de 700 milhões de crianças em todo o mundo.

Para entender os fatores que afetam o acesso das crianças aos serviços oftalmológicos nas escolas dos países de baixa e média renda, uma análise sistemática das intervenções no setor da educação foi realizada pelo Brien Holden Vision Institute, apoiado pelo Grupo Banco Mundial e pela Global Partnership for Education.

O custo dos óculos para crianças foi identificado como uma barreira significativa em muitos contextos. As oportunidades para reduzir os custos do programa incluem a aquisição de óculos por instituições terciárias locais, o uso de pessoal da escola como professores e protocolos apropriados para evitar prescrição excessiva.

O uso de professores para realizar exames de acuidade visual pode ser uma medida de economia de custos para os programas. O treinamento adequado aumenta o desempenho dos professores e a confiança na triagem.

Ainda de acordo com o Instituto, preocupações sobre a qualidade dos óculos e a incapacidade de substitui-los têm sido associadas à falta de vontade de pagar ou usá-los. Vários estudos descobriram que os óculos prontos são aceitáveis para muitas crianças e podem ser uma estratégia econômica e apropriada para reduzir o tempo de entrega deles.

Embora a oferta de serviços oftalmológicos para escolares seja desafiadora e dependente de determinantes econômicos, socioculturais, geográficos e políticos, a atenção oftalmológica na escola tem grande potencial para reduzir a morbidade ocular e os atrasos de desenvolvimento causados pela baixa visão e cegueira na infância.

A adoção e a execução da saúde escolar nos planos nacionais de atendimento oftalmológico e a sua inclusão nos programas de saúde escolar são cruciais para o acesso continuado aos cuidados com a saúde visual.

 

Cegueira e baixa visão na criança 

Extraído do Portal do CBO - Conselho Brasileiro de Oftalmologia - As Condições de Saúde Ocular no Brasil - Parte 1 - Cegueira e baixa visão na criança